Blog da Parábola Editorial

Blog da Parábola Editorial

ESQUEÇA A “LÓGICA” DA LÍNGUA!

capa-blog

 

 

Marcos Bagno

Desde o surgimento da filosofia antiga na Grécia, circula na cultura ocidental o mito de que a língua se organiza numa gramática que seria um espelho da lógica que comanda os processamentos da mente/espírito/alma/razão. Desse modo, a gramática seria a “lógica” da língua, enquanto a lógica descreveria a “gramática” do pensamento. Essa concepção de língua e de mente como o espelho uma da outra, velha de 2.500 anos, se enraizou fundo e continua bastante viva até hoje, especialmente entre as pessoas que se esforçam por defender a “pureza” da língua contra os “abusos” e os “erros” cometidos pelos próprios falantes. Essas pessoas costumam argumentar que esses “abusos” e “erros” vão na contramão da “lógica da língua” que, supostamente, governa a gramática. Por exemplo, no enunciado “Descartes foi um dos filósofos que se ocupou do caráter universal da linguagem”, o verbo ocupar deveria estar no plural por motivos “lógicos”, o que se comprovaria com a inversão dos termos: “Um dos filósofos que se ocuparam do caráter universal da linguagem foi Descartes”. Não parece lógico? Só que não...

O grande equívoco dessa abordagem tradicional é acreditar que existe realmente uma identidade entre o funcionamento da língua e o funcionamento da mente. Querer encontrar na língua a mesma “lógica” que governa a mente é acreditar, em última instância, na tese de que “o homem é um animal racional”, formulada inicialmente por Aristóteles e repetida até hoje. Ora, essa suposta racionalidade do ser humano foi posta em cheque no início do século 20 pela psicanálise desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939), que enfatizou o papel fundamental do inconsciente no funcionamento da psique e nas ações concretas — desdobramentos mais recentes da neurociência e de outros campos de investigação empírica têm sugerido que mais de 90% das operações do nosso cérebro estão fora do nível da consciência.

Continue reading
  9056 Hits
  0 Comments
9056 Hits
0 Comments

Por que uma escola sem partido é impossível?

escola-sem-partido

 

Nós somos seres condenados a significar. A fala neutra é uma impossibilidade em termos. Toda palavra proferida é carregada de tudo o que somos, temos sido e seremos. A própria capacidade de falar é histórica, socialmente situada: não aprendemos a falar porque um deus nos soprou ao ouvido. A língua é uma história, por isso mesmo é que se transforma ao longo do tempo, junto com a sociedade. A sincronia é uma quimera: tudo o que dizemos e ouvimos é uma cápsula do tempo em que dias, anos e séculos se entrecruzam. 

 

Um ensino/aprendizagem sem produção de sentido, sem construção de significado, é algo que somente as distopias literárias e cinematográficas podem tentar, mas sempre fadadas ao fracasso, já que se fazem com... palavras. Nem mesmo um robô conseguiria dar aulas "neutras", porque alguém teria de emprestar sua voz à máquina, e não há voz neutra. 

 

Continue reading
  7598 Hits
  0 Comments
7598 Hits
0 Comments

Como traduzir palavras intraduzíveis?

como-traduzir-palavras-intraduziveis

 

 

[…]

 

Uma conversa entre irmãos

Continue reading
  14690 Hits
  0 Comments
14690 Hits
0 Comments

LÍNGUA PORTUGUESA

15027550_1538054146211056_7787452547335272287_n

 

Um conselho: “Invista no seu domínio da língua”

 

Um conselho para quem quiser: invista no seu domínio da língua. Faz toda a diferença.

 

Continue reading
  8795 Hits
  0 Comments
8795 Hits
0 Comments

Tradução

7Cinco-ideias

Cinco ideias falsas

 

1. “A tradução é impossível.”

Sim, anda por aí uma ideia muito engraçada e que repetimos à exaustão sem pensar muito nela (por exemplo, quando falamos da supostamente intraduzível “saudade”): a tradução, segundo essa ideia, é impossível. Há quem ache que nunca podemos transmitir o que é importante entre as várias línguas — e, no entanto, todos os dias há quem faça traduções e todos nós usamos traduções sem nos apercebermos. É uma actividade “impossível” que afinal é bem possível. A tradução pode ser difícil (claro que é), mas não é impossível: os tradutores lá conseguem desenvencilhar-se melhor do que por aí se julga. E, se pensarem bem, a comunicação é bem mais difícil entre pessoas que falam a mesma língua, mas pensam de formas muito diferentes do que entre pessoas que falam línguas diferentes, mas têm ideias semelhantes.

Continue reading
  6701 Hits
  0 Comments
6701 Hits
0 Comments

Ler e escrever no Ensino Médio

5LER-E-ESCREVER

 

Professores que atuam com jovens no ensino médio deparam-se, cada vez mais, com o desafio de apoiá-los para que melhorem suas capacidades de leitura e de escrita, ampliem suas possibilidades de usar a linguagem, seja ela verbal ou não verbal, em especial dentro da escola, mas também fora dela. Mesmo que a formação específica desses professores não seja em língua portuguesa, não devem desconsiderar esse desafio ou evitá-lo.

 

Trabalhar com a produção de textos, estimular a oralidade, incentivar as mais diferentes leituras é tarefa de todas as disciplinas. Com mais ou menos dificuldades, acreditamos que todos os professores podem atuar ampliando as capacidades de linguagem dos seus alunos, das mais variadas maneiras. Assumir tal desafio exige, antes de mais nada, assumir que nunca estamos prontos como professores. Se, como dizia Paulo Freire, é “experimentando-nos no mundo que nos fazemos”, podemos dizer que é “experimentando-nos com os alunos que nos fazemos professores”.

 

Continue reading
  16407 Hits
  1 Comment
Recent comment in this post
Guest — Elizangela Moreira
Conteúdo extremamente relevante. Como professora de português, enfrentamos desafios cada vez maiores com relação ao incentivo da l... Read More
jeudi 14 février 2019 16:32
16407 Hits
1 Comment

LÍNGUA PORTUGUESA

2LINGUA-PORTUGUESA

 

Um conselho: “Invista no seu domínio da língua”

 

Um conselho para quem quiser: invista no seu domínio da língua. Faz toda a diferença. Em qualquer área. Isso não quer dizer saber gramática, diga-se. Também isso, mas língua é mais do que isso. Língua é saber usar com propriedade a variante padrão do idioma, que é a forma de investimento social. Mas é fundamental saber e compreender – e aceitar – que há variações de registros, estilos, figuras. Que o certo e o errado são conjunturais. Transitar nisso tudo nos faz poliglotas na própria língua. Saber usar a língua é igual a dançar. Nada mais lindo do que ver alguém dançando forró com propriedade. E valsa. E samba. E funk. Quanto mais estilos, melhor. Isso é língua. E, como eu disse, faz toda a diferença.

 

Continue reading
  5556 Hits
  0 Comments
5556 Hits
0 Comments

Atividades e tarefas escolares na aula de Língua Portuguesa

Atividades e tarefas escolares na aula de Língua Portuguesa
  

O que são atividades, tarefas ou exercícios na aula de Língua Portuguesa?

 

Parece provocação, mas precisamos revisitar o óbvio: o que são atividades, tarefas ou exercícios na aula de Língua Portuguesa? Utilizamos essa nomenclatura há muito tempo e agimos como se os sentidos estivessem estabilizados e como se todos, iniciantes e veteranos, ao usarem as mesmas expressões, se referissem aos mesmos objetos. Na realidade, porém, a elaboração de atividades e tarefas ou exercícios na formação do professor de português é um aspecto não tematizado como parte de um saber profissional.

 

Sem dúvida, elaborar atividades e tarefas ou exercícios é inerente à atuação docente. Mas em que momento da formação inicial esse aprendizado é sistematizado? A crença tácita na área é a de que os professores de Prática de Ensino ou os orientadores/supervisores de estágio devem se encarregar de ensiná-lo. A depender de como essa etapa da formação está organizada, espera-se que o(s) professor(es) de Didática tenha(m) abordado tal assunto em suas aulas. Mesmo que os professores de prática de ensino ou supervisores de estágio docente assumam a responsabilidade de ensinar a seus estagiários como formular exercícios, o tempo é quase sempre reduzido e são elaboradas poucas atividades. A observação geral sobre nossa atuação tem demonstrado que tal sistematização deveria começar desde as primeiras disciplinas da licenciatura.

Continue reading
  16929 Hits
  1 Comment
Recent comment in this post
Guest — jvn dc cjbn jkdc
... Read More
mercredi 2 mai 2018 22:47
16929 Hits
1 Comment

Estrangeirismos no comércio

Estrangeirismos no comércio

 

A recepção dos estrangeirismos no comércio

 

Com respeito à presença de vocábulos na maior parte oriundos da língua inglesa no português brasileiro, comumente observados em nomes de empresas, estabelecimentos comerciais, além de cartazes e anúncios em vitrines de lojas, lembro-me que, ao tomar café de manhã na “Padaria Breadway”, num belo dia de verão, numa cidade praieira no litoral paulista, e ao abrir a Folha de S.Paulo de 6 de janeiro 2000, vi meu texto “Língua pasteurizada” publicado na página 3 de “Tendências e Debates” (Schmitz, 2000a).

 

Continue reading
  15469 Hits
  0 Comments
15469 Hits
0 Comments

A estrutura da língua portuguesa

A estrutura da língua portuguesa

 

Um sistema semiótico infinito


Analisar cientificamente uma língua não é nada fácil. Os linguistas, que são os estudiosos que se dedicam profissionalmente a esta tarefa, sabem disso muito bem porque se deparam continuamente com as inesgotáveis complexidades estruturais e funcionais da língua.

 

Para se ter uma ideia dessa complexidade, basta lembrar que qualquer língua é uma realidade infinita. Entendamos bem isso. O número de sons da fala de que se serve uma língua é finito (em torno de três dezenas). O número de suas palavras (ainda que imenso) é finito (calcula-se que uma língua como o português brasileiro tem algo em torno de meio milhão de palavras). O número de regras com as quais organizamos os enunciados é também finito (embora não tenhamos ainda ideia clara de sua quantidade).

 

Continue reading
  36903 Hits
  0 Comments
36903 Hits
0 Comments

Prática de ensino de língua portuguesa

Prática de ensino de língua portuguesa

 

6 Dicas para transformar sua aula de português

 

Há muitas evidências de que a prática de ensino da língua não tem conseguido resultados que respondam, satisfatoriamente, às demandas sociais do momento atual

 

Continue reading
  23282 Hits
  0 Comments
23282 Hits
0 Comments

Sociolinguística em sala de aula

Sociolinguística em sala de aula

Como introduzir a Sociolinguística em sala de aula?

 

A Sociolinguística é um ramo dos estudos da linguagem que teve origem na chamada Linguística Estruturalista do século XX, mas que não adotou um de seus pressupostos herdados do suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) e influenciados por Émile Durkheim (1858-1917): o de que há que se fazer uma distinção entre o fato social, a língua, e sua manifestação, a fala. A primeira, por ser social e compartilhada  é homogênea e, portanto, podia ser estudada e descrita, enfatizando-se as oposições que se estabeleciam em seu interior. Já a fala seria a província da variação e era infensa a regularidades.

 

Os estudiosos que vieram a ser chamados de sociolinguistas estavam em busca de regularidades também na fala heterogênea, isto é, no uso que os indivíduos fazem da língua. Muitos deles simplesmente descartaram a dicotomia saussuriana língua e fala, bem como a outra, chomskiana, competência e desempenho, que faz uma releitura daquela.
Tal busca emergiu principalmente nos Estados Unidos, nas décadas de 1960 e 1970, quando aquele país assistia às reivindicações da população afro-americana, que deram origem à postulação dos Direitos Civis, depois transformados em lei. Nesse contexto, é fácil entender por que  os primeiros trabalhos de Sociolinguística se voltaram à descrição da variedade do inglês usada pela população estigmatizada.  A intenção era demonstrar que tal variedade era regida por regras linguísticas sistemáticas e previsíveis, que podiam ser identificadas por meio de análises estatísticas, até então não utilizadas nos estudos da linguagem.

 

Continue reading
  19622 Hits
  0 Comments
19622 Hits
0 Comments
logo_rodape.png
Blog da Parábola Editorial
Todos os Direitos Reservados

Entre em contato

RUA DR. MÁRIO VICENTE, 394 IPIRANGA | 04270-000 | SÃO PAULO, SP
PABX: [11] 5061-9262 | 5061-8075
Sistemas Web em São Paulo

Search