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Uma história da linguística, tomo 1

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Uma história da linguística: tomo 1da Antiguidade ao Iluminismo é a primeira obra escrita em português que se propõe retraçar o longo caminho que os seres humanos têm percorrido desde os tempos mais remotos e em diferentes civilizações na busca por decifrar essa faculdade exclusiva da espécie que é a linguagem e sua manifestação, entre outras formas, no que se convencionou chamar língua, essa entidade tão entranhada em nós e ao mesmo tempo tão fugidia que escapa a qualquer definição satisfatória. Este primeiro volume parte da Mesopotâmia, onde se constituíram as primeiras sociedades urbanizadas da história, aborda as reflexões linguísticas empreendidas nas tradições hindu, islâmica e judaica para em seguida se fixar na Europa e nos desdobramentos das teses sobre a língua/linguagem desde a Antiguidade greco-romana até os séculos 17 e 18, depois de passar pela Idade Média e pelo Renascimento. Um segundo volume se dedicará inteiramente ao século 19 até alcançar as duas primeiras décadas do século 20, período em que a linguística vai se constituindo como disciplina autônoma, dotada de teorias e metodologias próprias, capazes de conferir a ela o ambicionado rótulo de ciência.

Pode-se dizer que as reflexões sobre língua e linguagem na tradição ocidental derivam essencialmente das tentativas de dar conta de três principais “problemas”:

(1) a origem (e a natureza) da linguagem e das línguas;

(2) a relação entre linguagem e pensamento;

(3) a mudança linguística.

Os pensadores que se debruçaram sobre uma dessas questões foram inevitavelmente levados a se perguntar sobre as outras. Desses três grandes “problemas” derivam as principais perguntas que têm sido feitas ao longo dos vinte e cinco séculos de história da linguística:

·         quando e onde surgiu a linguagem?

·         todas as línguas derivam de uma única língua original ou surgiram em diversos lugares e épocas?

·         existem línguas mais desenvolvidas que outras?

·         a língua é um dom divino ou deriva de outra fonte?

·         a diversidade das línguas é um castigo divino ou uma inevitabilidade da diversidade cultural?

·         as palavras (ou os signos linguísticos) derivam da natureza das coisas ou são convenções humanas — isto é, os signos são naturais ou arbitrários?

·         as regras da gramática refletem as regras da lógica (isto é, do pensamento), dependem destas (ou vice-versa), ou não existe relação entre elas?

·         as línguas apresentam características universais ou são radicalmente diferentes umas das outras?

·         como e por que as línguas mudam?

·         a língua muda por si mesma ou pela ação dos falantes?

·         a língua é uma “coisa em si” ou uma instituição social?

·         a mudança linguística é uma decadência, um progresso ou nenhuma das duas coisas?

·         se a língua dá conta das necessidades de interação de seus falantes, por que precisa mudar?

É fácil entender, então, por que as mesmas questões reapareçam regularmente, sob nova roupagem filosófica, a cada período da história das reflexões sobre língua e linguagem. A questão da arbitrariedade do signo linguístico, por exemplo, surge entre os gregos antigos, é tratada por santo Agostinho na Antiguidade tardia, por Dante Alighieri na Idade Média, por Locke e Leibniz na Modernidade clássica, é a base do pensamento linguístico do estadunidense Whitney no século 19 e chega ao início do século 20 estampada no Curso de linguística geral, publicado sob o nome de Saussure em 1916.

A linguagem é a marca registrada, o selo de exclusividade, o traço distintivo da espécie humana. Outros animais também desenvolveram sistemas complexos de comunicação, como as abelhas, os pássaros, os golfinhos e os macacos, mas nenhum deles é tão sofisticado, maleável, flexível e poderoso quanto a linguagem humana, sem dúvida porque somos dotados de um cérebro que, segundo muitos cientistas, é a coisa mais complexa que existe no universo. Nenhuma linguagem animal permite a seus usuários fazer referência não só ao aqui-agora, mas também ao que já foi, ao que supostamente virá a ser e ao que nunca foi nem será. Além disso, somente a linguagem humana permite a abstração, a simbolização mais radical possível, como a criação de mundos imaginários e de entidades transcendentais, como os espíritos e as divindades, tão poderosamente criadas pela linguagem que conseguem levar tantas pessoas a acreditar que tais entidades existem de fato, fora da cerebração humana.

A maioria dos livros que contam a história da linguística costumam se concentrar na trajetória que as reflexões sobre a linguagem têm percorrido desde os gregos antigos até os dias de hoje. Quando muito, fazem alguma referência à tradição de estudos linguísticos da Índia, uma vez que o contato com ela teve influência decisiva na ciência linguística ocidental. No entanto, como é fácil imaginar, todas as grandes civilizações tiveram de enfrentar e resolver os problemas da representação de suas línguas na escrita e de ensino dessas línguas, mesmo que reservado a uma reduzida parcela de sua população. Por isso, este livro de Marcos Bagno, antes de contar a história da linguística no chamado Ocidente, examina de que modo a análise linguística, junto com o planejamento do ensino (ou mesmo por causa dele), se desenvolveu em algumas tradições mais antigas no Oriente. Começa pela Mesopotâmia, vai até a Índia e depois retorna ao Oriente Médio, para conhecer um pouco das tradições linguísticas dos árabes e dos judeus. Uma característica comum a essas tradições é o fato de terem surgido em torno da tarefa de ensino e preservação de línguas que já não eram mais faladas no período em que se sentiu precisamente a necessidade de ensiná-las e preservá-las por terem se tornado as línguas “clássicas” de suas respectivas culturas: sumério, sânscrito, hebraico bíblico e árabe corânico. Os capítulos seguintes se organizam em ordem cronológica: antiguidade greco-latina, Idade Média, Renascimento, Modernidade e Iluminismo.

Bagno analisa os debates em torno das línguas e da linguagem dentro do contexto social, econômico, político, cultural, ideológico de cada período abordado. A narrativa, portanto, se faz por um prisma claramente sociológico ou sociopolítico, em que as discussões linguísticas refletem o clima de opinião da época. Com isso, espera-se que a obra possa atrair não somente as pessoas dedicadas aos estudos linguísticos como também as que se interessam pela história em termos mais amplos e pelo desenvolvimento das grandes correntes de pensamento que têm moldado a cultura ocidental nos últimos vinte e cinco séculos.

 

 

 

Nossa língua e outras encrencas crônicas
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