Texto_e_feminismo

 

— Meu filho, sai desse computador e vai terminar o dever de casa!

— Eu tô fazendo o dever de casa. É uma pesquisa pra um texto.

— Sobre o que você tá pesquisando?

— Era pra fazer uma pesquisa sobre um movimento social e eu resolvi pesquisar sobre o feminismo. Não entendi ainda essa frase aqui: “Feminismo é a ideia radical de que as mulheres são gente”. Teve alguém em algum lugar que achou que as mulheres não eram gente?

— Então, meu filho, as mulheres até pouco tempo não podiam votar, não podiam estudar, não podiam viver sozinhas ou andar sozinhas nas ruas, não podiam se separar de seus maridos... a bisa mesmo queria ser professora, mas não pôde estudar porque o pai dela dizia que mulher que aprende a escrever vai escrever carta pros namorados, aí ele foi e tirou ela da escola... ou seja: as mulheres não tinham os mesmos direitos que os homens, não eram “gente” no sentido pleno da palavra, mas um ser de segunda categoria, sem direito a fazer as próprias escolhas. Esse me parece ser o sentido da frase: o feminismo defende que mulheres e homens tenham os mesmos direitos e deveres. Ainda hoje, as mulheres em geral ganham menos, tem menos mulheres que sejam chefes ou ocupem cargos políticos importantes...

(Ele interrompendo:) 

— Eu lembro da Dilma! Quando chamavam ela de vagabunda!

— Pois é, meu filho. E as mulheres são mais frequentemente vítimas de violência dentro da própria casa, quando, por exemplo, discordam dos maridos ou querem se separar... 

(Interrompendo de novo:)

— Não é possível que existam maridos que tenham coragem de fazer mal às mulheres com as quais eles se casaram um dia...

— Sim, meu filho. É possível, e é muito muito muito comum. Mais comum do que a gente pensa. E acontece em todo lugar, com gente rica e gente pobre, com gente que estudou e com gente que nunca foi à escola. E tem mais... muitas mulheres não podem decidir sempre se querem ou não ter filhos. Às vezes, elas são obrigadas a ter filhos mesmo de homens que as estupraram.

— Meu deus! Mas tem gente que obriga as mulheres a terem filhos se elas não querem?

[...]

(O diálogo foi mais ou menos esse. E cada espanto dessa criança me dói no peito. Terminei dizendo:)

— E ó: pare de interromper uma mulher quando ela está falando.