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PRECONCEITO LINGUÍSTICO – 20 ANOS DEPOIS

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Pouco depois de ter sido lançado, há exatos 20 anos, o livro Preconceito linguístico se tornou uma obra de referência na maioria dos cursos de Letras e Pedagogia do Brasil, além de outras áreas em que as questões de linguagem também são centrais, como o jornalismo, a fonoaudiologia, o serviço social etc. A própria noção de “preconceito linguístico”, até então restrita aos debates acadêmicos entre linguistas, ganhou espaço na mídia, no ambiente escolar, nos projetos de formação docente e em documentos oficiais de política educacional. Muitos livros didáticos de Língua Portuguesa passaram a incluir um capítulo ou uma seção sobre a discriminação social por meio da linguagem. Surgiu aos poucos uma percepção geral mais aguçada com relação a essa forma de exclusão social muito sutil e, por isso mesmo, perversa, até pelo fato de passar muitas vezes despercebida, diante de uma certa “naturalização” das noções de “falar errado” e “falar certo” que circulam na nossa cultura linguística. Preconceito linguístico mostra de forma clara e sem rodeios que essas noções são construções ideológicas, decorrem das dinâmicas socioculturais da sociedade brasileira, extremamente hierarquizada, umas das mais excludentes e desiguais do mundo. Na verdade, como diz Marcos Bagno, “o preconceito linguístico não existe: o que existe é um profundo preconceito social que usa a forma de falar das pessoas como desculpa para excluí-las dos bens e dos direitos que deveriam caber a elas”. Assim, o preconceito linguístico vem se juntar a tantas outras práticas de discriminação vigentes na sociedade como o racismo, o sexismo, a homofobia, ao chamado ódio de classe que se volta contra a maioria da população (pobre ou mesmo miserável), e às demais formas de violência simbólica que são exercidas contra a diversidade de opiniões, de crenças e de valores. A língua que uma pessoa fala é um dos componentes fundamentais de sua identidade individual e coletiva, nós somos o que falamos e falamos o que somos. Discriminar alguém por seu modo de falar é discriminar a pessoa naquilo que ela é, concretamente, em seu próprio corpo, e fere os princípios elementares da cidadania e da convivência democrática. Ao longo desses vinte anos, Bagno vêm recebendo mensagens de inúmeras pessoas que se reconhecem nas situações descritas no livro, pessoas de origem rural ou de camadas urbanas desfavorecidas que, tendo conseguido chegar ao ensino superior, encontraram em Preconceito linguístico os argumentos que buscavam para compreender as discriminações que sofriam e para criticá-las de forma bem fundamentada nos pressupostos da linguística e da sociologia da linguagem. Também têm sido muitos os depoimentos daquelas que, após a leitura do livro, se deram conta de suas próprias atitudes e práticas discriminatórias e passaram a compreender melhor a origem social e cultural do preconceito linguístico. Combater a discriminação pela linguagem não é, como muita gente desinformada supõe, defender um suposto “vale-tudo” no uso da língua, abandonar o ensino das formas prestigiadas de falar e escrever ou, pior, querer impor o uso das formas “erradas” como as únicas aceitáveis a partir de agora. As questões de educação linguística são muito mais complexas do que um binarismo fácil entre “sim” e “não” ou uma simples troca de “normas”. A multiplicidade dos usos da língua tem que ser respeitada, valorizada e defendida, e entre esses usos, evidentemente, estão, também, as formas de prestígio, faladas e escritas, que têm sido reservadas durante muito tempo a uma pequena parcela da população. Mas é esse também que causa tanto medo e apreensão, porque significa ampliar o acesso à cultura letrada num país injusto em que os bens e os direitos sociais têm sido reservados há séculos para muito pouca gente.

 

 

 

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