Blog da Parábola Editorial

Blog da Parábola Editorial

Poesia na sala de aula

Poesia-na-sala-de-aula

Poesia na sala de aula é um livro que vem nascendo há muitos anos. Vem nascendo da vivência da leitura do poema em sala de aula nos mais diversos níveis de ensino. Com o tempo, a ele foram sendo incorporadas novas reflexões, leituras, indicações. Mas a base do livro é pensar caminhos para a leitura do poema, fugindo do modelo tradicional fornecido pelo livro didático.

 

“A base do livro é pensar caminhos para a leitura do poema, fugindo do modelo tradicional fornecido pelo livro didático”

 

Em Poesia na escola, defendo que o estudo da poesia não deve começar muito cedo. Mas a leitura, a aproximação mais lúdica do poema deve e pode começar o mais cedo possível. Até o final do ensino fundamental o eixo não deve ser o estudo, e sim a apreciação, a convivência cotidiana com os mais diversos tipos de poemas.  Para isso, a leitura oral é a chave, a porta de entrada para a aproximação do poema.

 

“Até o final do ensino fundamental o eixo não deve ser o estudo, e sim a apreciação, a convivência cotidiana com os mais diversos tipos de poemas.”

 

Ao falar em poesia na educação básica, não penso propriamente no estudo… Acho que se deve ler poemas com crianças e jovens, ouvir as possíveis repercussões que o poema pode ter para ele. Ler livros, conversar sobre o lido, reler, ler em voz alta. Às vezes encenar, musicalizar, ilustrar, mas tudo sem transformar o texto num mero pretexto para aprendizagem. A poesia contribui e muito para formação dos alunos se for trabalhada cotidianamente, visando formar sua sensibilidade, sua percepção do mundo, das pessoas.

 

“A poesia contribui e muito para formação dos alunos se for trabalhada cotidianamente.”

 

Sempre me perguntam quais poetas devem ser lidos em sala de aula. Depende de muitas coisas. Das séries, das idades, do contexto. Por exemplo, acho Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles o maior livro de poemas para crianças de nossa literatura infantil. Há poemas no livro que se adequam a qualquer série inicial do ensino fundamental. Já com jovens, sobretudo a partir do 8º ano, é complicado achar um autor ou livro adequado. Aqui considero que um recurso é organizar antologias… Mas cada turma é diferente. Portanto, precisamos conhecer os interesses das turmas para poder indicar poemas e livros. Em Poesia na sala de aula, faço algumas indicações, com sugestões para se trabalhar alguns livros com jovens. Mas o melhor mesmo, e isto vários pesquisadores já afirmaram, é o professor-mediador partir também de sua experiência de leitor e partilhar com as turmas que estão sobre sua batuta.

 

Sempre me perguntam quais poetas devem ser lidos em sala de aula. Depende de muitas coisas. Das séries, das idades, do contexto.”

 

Uma estratégia de que sempre lanço mão é a leitura em voz alta. Ler e reler os poemas, buscar as inflexões adequadas, os ritmos, os andamentos. Experimentar essas descobertas com os próprios alunos sempre traz bons resultados – entendo por resultados o envolvimento dos leitores em formação. Debater poemas, trazer textos que abordam os mesmos temas e compará-los. A comparação sempre rende bons debates, boas descobertas. Encenações, a depender dos poemas e das turmas, às vezes rende boas experiências. Há um capítulo em Poesia na sala de aula em que fazemos inúmeras sugestões. Mas é bom sempre reforçar: uma boa estratégia usada à exaustão pode perder sua eficácia. Talvez a melhor das estratégias seja ler cotidianamente poemas, sem atrelá-los a exercícios e outras atividades.

 

“Uma estratégia de que sempre lanço mão é a leitura em voz alta. Ler e reler os poemas, buscar as inflexões adequadas, os ritmos, os andamentos.”

 

Tive a alegria (e continuo tendo) de vivenciar inúmeras experiências com a poesia em sala de aula. Quase sempre começo com a leitura oral do poema… vamos lendo, buscando a expressividade que cada palavra comporta em seu contexto. Esse exercício favorece muitas descobertas que apenas uma leitura pode não oferecer. Ressalto sempre a importância da realização oral do poema – pelo professor, pelos alunos leitores e diversas vezes. Um exemplo, sobre o qual nunca escrevi, foi o trabalho com uma antologia com poemas que tematizavam a lua. A vivência se deu com alunos do primeiro semestre de Letras.  Além de descobrirmos juntos dezenas de poemas, de épocas diferentes, também íamos observando peculiaridades de cada poema: uns, mais idealistas, outros mais referenciais, outros mais melódicos, outros mais sentimentais, etc. Neste caso, a abordagem comparativa presidiu a experiência. Acredito muito na abordagem comparativa como um procedimento que estimula o debate, a reflexão e a sensibilização dos leitores em formação. Toda minha produção traz esses esforço de diálogo entre leitura crítica e perspectiva de ensino – tanto no ensino básico quanto na universidade.

 

“Talvez a melhor das estratégias seja ler cotidianamente poemas, sem atrelá-los a exercícios e outras atividades.”

 

Chamo a atenção para a necessidade de o professor-mediador ter um conhecimento teórico mais profundo, uma experiência de leitura de poesia (indicamos no livro, no tópico intitulado “Antologias e livros de poemas: sugestões de leitura”, mais de uma dezena de antologias e cerca de 50 título de livros de poemas, sem falar nos já clássicos, que são referidos ao longo do livro)  e, por fim, saber lançar mão de procedimentos metodológicos adequados a cada turma, a cada leitor em formação.

 

“A canção – em seus mais diversos gêneros – também é um bom ponto de partida e de diálogo com o universo poético.” 

 

A tão falada resistência dos alunos à poesia é resultado de desconhecimento, ou de uma vivência muito pragmática com o poema ou ainda metodologicamente inadequada. O professor precisa ir devagar, não ceder às primeiras manifestações de resistência. Aliás, nunca ela é total. Conhecer um pouco o horizonte de expectativa dos leitores ajudar a escolher algo que possa ter boa repercussão. A canção – em seus mais diversos gêneros – também é um bom ponto de partida e de diálogo com o universo poético. É preciso ir minando a resistência, e para isto é preciso ser um leitor de poesia. Quando o aluno percebe que estamos falando de algo que é vital para nós, dificilmente ele fica indiferente. E não ter a ilusão de que se vai tocar/despertar todos, transformar todos em leitores de poesia. Qualquer leitor que se ajude a formar já é um ganho importante.
 

 

Qual política linguística?
O sistema de pronomes pessoais está balançando

Posts Relacionados

 

Comentários

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Já Registrado? Login Aqui
Visitantes
Sexta, 19 Abril 2024
logo_rodape.png
Blog da Parábola Editorial
Todos os Direitos Reservados

Entre em contato

RUA DR. MÁRIO VICENTE, 394 IPIRANGA | 04270-000 | SÃO PAULO, SP
PABX: [11] 5061-9262 | 5061-8075
Sistemas Web em São Paulo

Search