Como compor um acervo de qualidade para pequenas e médias livrarias?
Entrevistamos Vinícius Pires Pinheiro, ex-comprador da Saraiva, hoje a maior rede de livrarias do Brasil, com objetivo de ajudar os pequenos e médios livreiros a saber escolher e montar um acervo de qualidade.
Como compor o acervo de uma livraria?
VPP: O processo de composição do acervo de uma livraria se baseia, principalmente, nos seguintes critérios: histórico de vendas do autor e da editora, temática do livro e condições comerciais que sejam vantajosas para a livraria.
Na sua opinião, o que faz com que os títulos mais vendidos sejam tão populares?
VPP: Os livros mais vendidos atingem essa posição por diversos fatores: parceria comercial entre livraria e editora, que resulta em uma venda expressiva; publicação de uma resenha favorável sobre a obra em revistas semanais; indicação do livro em redes sociais por "celebridades" e outras possibilidades.
Em meio a tantas publicações na área de língua portuguesa, que critérios você utilizava para escolher um em detrimento de outro?
VPP: No segmento de língua portuguesa, o processo de escolha de lançamentos se baseia em dois critérios: alcance da temática/assunto do livro (obras mais abrangentes, que atinjam boa parte do público consumidor, possuem vantagem na aquisição em relação a livros com assuntos bem específicos) e a relevância do autor (autores consagrados neste segmento como Evanildo Bechara, Marcos Bagno, José Luiz Fiorin, entre outros, costumam ter maior destaque nas lojas).
Você pode nos descrever qual o processo de seleção que as grandes redes de lojas varejistas fazem na área de língua portuguesa para compor o acervo da livraria?
VPP: Para a composição do acervo, além dos critérios citados, a livraria considera o histórico de vendas de cada livro. Obras que mantêm vendas constantes certamente serão adquiridas para a composição do acervo.
Em meio à crise política e financeira atual, muitas lojas tiveram que readequar seus acervos e estoques. Dentro desse novo cenário, como fica o espaço para o livro universitário, mais especificamente, o livro de linguística e língua portuguesa?
VPP: O atual cenário político-econômico brasileiro, sem dúvida, afeta as livrarias. Com a necessidade de atingir a meta de venda em um cenário desfavorável, as livrarias valorizarão a aquisição e exposição dos livros mais vendidos em geral para composição do acervo. Sendo assim, não há dúvidas de que haverá a diminuição de exposição de livros de linguística e língua portuguesa, pois essas áreas não possuem obras entre os livros mais vendidos.
Para editoras deste segmento não perderem vendas, é fundamental aproveitar as sazonalidades – volta às aulas, que ocorrem em fevereiro e agosto – para oferecer condições comerciais que convençam as livrarias a apostar em seu catálogo.
E você teria alguma dica para dar ao pequeno livreiro para seu processo de escolha de livros de língua portuguesa e linguística?
VPP: Minha sugestão aos pequenos livreiros é que, de forma alguma, deixem faltar as obras consagradas em sua livraria e que ofereçam a maior variedade possível de livros de linguística e língua portuguesa. Tenho convicção de que há um público leitor que sente falta de um acervo mais qualificado.
Com este texto, esperamos ajudar pequenos e médios livreiros a se nortearem durante o processo de aquisição de títulos para a composição de seu acervo.
