Língua Portuguesa para nativos

 

Um projeto com raízes no espaço escolar 

 

Venho propor, pensando no ensino de língua portuguesa, uma medida endógena, situada em nosso espaço nacional, uma medida um tanto quanto doméstica, por isso mesmo básica. Refiro-me às condições de nossas escolas de ensino da língua portuguesa para nativos. Quero aqui refletir sobre como a escola de cada comunidade brasileira, urbana ou rural, poderia iniciar os estudantes ou (confirmá-los) nos ideais de “promoção, defesa, enriquecimento e  difusão da língua portuguesa como veículo de cultura, educação, informação e acesso ao conhecimento científico, tecnológico e de utilização oficial em fóruns internacionais”, conforme propõe o Instituto Internacional de Língua portuguesa (IILP).

 

Estou buscando operar desde dentro, ou seja, olhar o problema na base das bases, convencida de que a escola, por princípio, constitui a agência por excelência onde a língua se nos apresenta como um objeto de conhecimento explícito, de reflexão teórica, ou como um patrimônio de repertórios informacionais, culturais e artísticos a serem defendidos, enriquecidos e postos em circulação.

 

Com base nos objetivos do IILP e, como disse, “olhando para dentro”, no caso aqui, olhando para a área da educação no Brasil, mais concretamente para o setor do ensino de língua portuguesa, penso que seria de grande valia:

 

 

Seria pertinente, então, que a escola, em qualquer altura de sua trajetória, inibisse ou mesmo combatesse certos mitos que, infelizmente, ainda são consensuais, sobretudo entre aqueles que passaram pelas escolas. (Curiosamente os analfabetos não acham que “não sabem falar português”). Ou seja, que a escola tivesse como um de seus alvos negar:

 

 

Vi postado nas redes sociais, o seguinte comentário: “Que a língua portuguesa é considerada uma das línguas mais difíceis do mundo de se aprender já se sabia. Que lá fora os gringos comentam que é uma língua bonita de se ouvir, melódica, romântica e tal, tudo bem. Mas que mania é essa que os humanos brasileiros têm de assassinar a própria língua quando abrem a boca para falar?” Noutro trecho se dizia: “Aqui no Brasil, lamentavelmente, há uma enorme falta de compromisso com a nossa língua... jogada às traças”.É curioso que a valoração positiva da língua portuguesa é atribuída aos estrangeiros: “lá fora os gringos comentam que é uma língua bonita de se ouvir, melódica, romântica e tal”. Entre nós, ao contrário, ela é vítima de um lento, forçoso e tácito ‘assassinato’, ou, pior, já em decomposição, pois está “jogada às traças”.

 

Lá fora os gringos comentam que é uma língua bonita de se ouvir, melódica, romântica e tal”. Entre nós, ao contrário, ela é vítima de um lento, forçoso e tácito ‘assassinato’

 

Não nos parece que, até agora, a escola, como um todo, tenha recebido a atenção necessária para que movimentos como o da afirmação da língua portuguesa, em relação ao resto do mundo, possam ir nascendo e serem cultivados. Até agora, insisto, a escola não conseguiu alinhar-se pelo pressuposto de que

 

 

É tempo de clamar por uma escola que não mais tivesse entre suas prioridades apontar erros de português, na ilusão de que – um dia – quem sabe, reconquistando o domínio da língua perfeita, chegaremos a um ‘éden linguístico’. Mais: não me parece inoportuno nem mesmo lamentar a lentidão com que essas mudanças empreendem seu curso, já que muitas são as forças – confessadas e não, mas sempre poderosas – que lutam por defender esquemas de teorias sobre a língua que, epistemologicamente, já não fazem sentido nos dias atuais. Ainda: não me parece inoportuno chamar a atenção para as ‘ideologias linguísticas’ que, silenciosamente, corroem o que poderia caracterizar o autêntico interesse pela “promoção, defesa, enriquecimento e  difusão da língua portuguesa como veículo de cultura, educação, informação e acesso ao conhecimento científico, tecnológico”, reitero.

 

Estamos bem; estamos em paz; sem fome e com nossos direitos respeitados!

 

A “imperfeição” da língua portuguesa é, com certeza, a prova de sua vivacidade; a prova de que ela responde às suas finalidades máximas; e, por isso, é capaz de garantir o futuro, aceitando perder a fidelidade ao passado. Somente uma língua viva, em todos os sentidos desse termo, pode pretender, antes de tudo, a troca de bens culturais, a permuta das condições de desenvolvimento, para que mais gente, em mais lugares, livre da dominação deste ou daquele Estado nacional, livre das políticas linguísticas de exclusão, mais gente, repito, falando essa língua, possa dizer: “Estamos bem; estamos em paz; sem fome e com nossos direitos respeitados!”

 

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