LÍNGUA INGLESA

 

ENSINO DE INGLÊS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO

 

Qual seria a metodologia mais adequada à realidade da escola pública para que o aluno seja estimulado a aprender e a desenvolver autonomia numa segunda língua dentro e fora da sala de aula?

 

Em primeiro lugar, é preciso que o professor saiba a língua, pois ninguém ajuda outra pessoa a aprender aquilo que ele mesmo não sabe. Satisfeita essa premissa, a melhor metodologia é aquela que atende ao desejo da maioria dos alunos, digo maioria porque temos que admitir que existam alunos que não querem aprender outra língua. Se conseguirmos atender à maioria de nossos alunos, poderemos, quem sabe, até conseguir cativar os mais resistentes.

 

Em primeiro lugar, é preciso que o professor saiba a língua, pois ninguém ajuda outra pessoa a aprender aquilo que ele mesmo não sabe

 

A metodologia mais adequada não impõe aos alunos essa ou aquela habilidade e não decide a priori o que é mais importante para seu futuro. Sempre me posicionei contra o foco exclusivo na leitura ou no ensino meramente gramatical, ou na tradução. Primeiro porque não defendo que o professor tem o direito de fazer essas escolhas passando por cima dos desejos dos alunos, segundo porque parto da premissa de que a língua deve ser ensinada em toda a sua complexidade comunicativa, sem restringir seu estudo a uma tecnologia (leitura) ou a aspectos apenas formais (gramática). Defendo que a língua deve fazer sentido para o aprendiz em vez de ser apenas um conjunto de estruturas gramaticais.

 

A esse respeito, venho investigando a aquisição de línguas estrangeiras, utilizando um corpus de narrativas de aprendizagem onde os narradores nos contam como aprenderam ou aprendem diversas línguas. Ao ler os depoimentos dos nossos aprendizes, pude perceber que os alunos se cansam de ter o mesmo tipo de aula em torno de itens gramaticais ao longo de todo o percurso escolar. Talvez seja por isso que os alunos do ensino médio sejam os mais desmotivados, pois já perderam a esperança de ter uma aula que faça sentido para eles. As narrativas revelam, também, que o aprendiz de uma língua estrangeira, quando motivado, usa essa língua para fazer alguma coisa fora da sala de aula: ouvir música, ouvir programas de rádio e TV, compreender falas em filmes, brincar com jogos eletrônicos, e, em alguns poucos casos, interagir com estrangeiros. Mas isso, raramente, acontece na escola. A sala de aula, geralmente, não oferece atividades de uso da língua, mas apenas exercícios sobre determinados itens gramaticais nos quais a língua é tratada de forma artificial ou, ainda, a tradução de textos escolhidos pelo professor e que nem sempre são de interesse do aluno. As frases soltas em exercícios do tipo “passe para a negativa ou passe para o plural” não se constituem em enunciados na vida real, como o famoso “The book is on the table” ou “The cat is under the table”.

 

Sempre me posicionei contra o foco exclusivo na leitura ou no ensino meramente gramatical, ou na tradução

 

Um bom método deveria oferecer oportunidades para o aprendiz ler textos em jornais e revistas, de preferência sobre assuntos de seu interesse, tais como como esporte, cinema, música, textos literários diversos, sempre de tamanho e nível de dificuldade adequados ao conhecimento linguístico dos alunos. Nas atividades escritas, deveriam ser utilizados gêneros diversos, tais como formulários, cartões (aniversário, dia das mães, dia dos pais), e-mail. Quando possível, os alunos poderiam ser incentivados a participar de sessões de chat e listas de discussão próprias para aprendizes de línguas; enviar comentários a jornais etc. Os alunos deveriam também ser incentivados a usar a língua oralmente em pequenos sketches, ou cantando, participando de jogos. Enfim, deveriam se envolver em tarefas orais, interagindo com colegas e professores e, se possível, com outros falantes. Para ajudar o aluno no desenvolvimento oral, o professor pode, como aconselham Rubin e Thompson (1994: 169), ensinar algumas expressões essenciais para o gerenciamento de uma conversa tais como:

 

• Attention getters: Hey, Mary!

• Politeness routines: thank you very much, Excuse me.

• Suggestions: Let’s...

• Requests: Come here! Wait a minute!

 

Em salas com muitos alunos, uma boa opção é recorrer a trabalhos em grupo que requeiram colaboração. De preferência, pode-se pensar em tarefas em que cada aluno tenha um papel especifico.

 

Exemplo: escrever um guia turístico sobre sua cidade em que cada aluno ficará responsável por uma parte. A complexidade dessa atividade pode variar de acordo com o nível dos alunos. Se os alunos são iniciantes, pode-se fazer um texto onde prevaleçam palavras soltas e sintagmas seguidos das informações (ex. population, altitude, main restaurants; museums, etc.). Se os alunos tiverem mais domínio do idioma, poderão escrever textos mais elaborados sobre sua cidade. Se já forem digitalmente letrados, poderão, após correção do professor, publicar seu texto na web em formato multimídia, ou seja, incluindo imagens, hipertextos e até pequenos vídeos produzidos em câmeras de telefones celulares. Cada aluno ficaria responsável por uma parte do trabalho. Os grupos podem ainda encenar pequenas cenas; entrevistar colegas sobre determinados temas previamente acordados entre todos; escrever um portfólio da turma com descrições pessoais; fazer um painel de profissões com pequenas descrições, etc.

 

Envolva seus alunos nas decisões, transforme-os em seus colaboradores

 

Envolva seus alunos nas decisões, dê a eles opções de escolha de material e de atividades, transforme-os em seus colaboradores e você estará não apenas ensinando outra língua, mas educando-os para uma participação na sociedade mais democrática e mais colaborativa.

 

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