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O título desta obra sugere complexidade, novas tendências, domínio de habilidades comunicativas no campo tecnológico; em contrapartida, a linguagem é simples, até mesmo para quem não se considere habilidoso com as tecnologias neste mundo digitalmente conectado. Por exemplo, ao explicar o que são aplicativos ou apps, lemos: “Pedacinhos de software baixados da internet” (p. 20), sendo que software fora definido na página anterior, permitindo envolvimento, familiarização e conhecimento para diversos leitores, algo que contribui muito com quem não tenha domínio da tecnologia.

Num momento em que os sistemas de avaliação no Brasil apresentam resultados não tão satisfatórios, Letramentos digitais nos apresenta práticas emergentes no ensino da língua.

 

“Pedacinhos de software baixados da internet”

 

Uma educação aliada à tecnologia aparenta ser o caminho para aprovisionar a necessidade de aprendizagem dos alunos brasileiros. Enquanto alguns, ao observar as mudanças no uso de ferramentas digitais, veem declinar a leitura linear e a reflexão da escrita, outros vislumbram redes pessoais de aprendizagem, com projetos colaborativos direcionados para a inteligência coletiva. Com essa tendência progressista, o livro se articula em quatro capítulos. Em cada um deles, antes do título, há uma hashtag (a cerquilha, conhecida no Brasil como jogo da velha: #), que se entende como aspecto ilustrativo, numa correlação com a internet; transmissão, possivelmente, de ideia corporativa, de interação; para identificar o tema do capítulo, enfim, como um hiperlink, num conceito de grupo, de pesquisa; sugerindo leitura com referências. Há bastantes citações diretas ou indiretas, boxes, indicações de leituras, quadros, com sugestões para (re)ler  trechos e atividades, que conduzem o(a) leitor(a) no ir e vir de páginas, no entrelaçar de teoria e prática, com seus boxes elucidativos e grades de atividades, numa estrutura impressa que possibilita ler com benefícios de virtualidade, com todas as características do hipertexto.

No primeiro capítulo: “# Da pesquisa às implicações”, os autores, especialistas em ensino da língua e em tecnologias da educação, destacam o “letrar” digitalmente e definem os letramentos como resultados das práticas sociais de leitura e escrita. Posto isto, o campo das tecnologias exige as habilidades de interpretação, administração, compartilhamento e criação de sentido em comunicação digital. Esta nova realidade aponta para o ensino de língua que atenda as necessidades atuais e futuras dos estudantes, uma vez que não há como negar o impacto das tecnologias nas línguas. Se ensinamos apenas letramento impresso, cometemos fraude  contra as necessidades de nossos discentes (p. 19). Devemos cumprir com nosso dever de oferecer não letramento digital, mas letramentos digitais que se organizam em dezesseis tipos.

Com o foco em linguagem, temos o letramento impresso – compreensão e criação da escrita online com seus artefatos, competências da leitura e escrita no meio digital; o letramento em SMS – habilidade de usar o internetês com eficiência; o letramento em hipertexto – habilidade de processar hiperlinks e os usar com eficácia; o letramento multimídia – em múltiplas mídias, interpretam-se e se criam textos com habilidade; o letramento em jogos  chamado de macroletramento, porque está ligado a outro  letramento, o  pessoal; com interações eficientes e navegações visando aos objetivos dos jogos;  o letramento móvel  habilidade de comunicar por meio da internet móvel, mais um macroletramento, pois se liga aos letramentos em rede, em informação, em pesquisa, impresso e multimídia; e o letramento em codificação – permite criar softwares e canais de mídia, com habilidades de ler, escrever, criticar e modificar códigos.

 

devemos cumprir com nosso dever de oferecer não letramento digital, mas letramentos digitais

 

Com o foco em informação, há o letramento classificatório – habilidade de interpretar e criar, com eficiência, folksonomias  (etiquetas, nuvens de tags, que levam a listas de recursos salvos); o letramento em pesquisa – eficiência no uso dos motores de busca, com conhecimentos da funcionalidade e da limitação desses serviços; o letramento em informação – habilidade de criticar e avaliar fontes de informação, verificando credibilidade e origens; e o letramento em filtragem – habilidade de reduzir a sobrecarga de informação, para isso são importantes as redes pessoais de aprendizagem, confiáveis, com pessoas e recursos como fontes de apoio e informação.

Com o foco em conexões, o letramento pessoal – habilidade de projetar a identidade online em sintonia com os seus desejos, com formatações e ferramentas digitais apropriadas, outro macroletramento, por necessitar do letramento impresso, em codificação e multimídia; o letramento em rede – habilidade de organizar redes online profissionais e sociais, conforme letramento em filtragem; o letramento participativo – habilidade de participar com contribuições para a inteligência coletiva das redes digitais; e o letramento intercultural – habilidade de interagir nos diferentes contextos culturais e interpretar documentos e artefatos culturalmente diversos.

Por último, com o foco em (re)desenho, o letramento remix – habilidade de criar mixagens nas redes digitais, fazendo-as circular com seus novos sentidos.

Letramentos digitais promove a integração do ensino da linguagem tradicional com o dos letramentos que já incorporamos no dia a dia, ponderando que os instrumentos digitais por si sós carecem de um olhar profundo capaz de gerar ensino e aprendizagem. A mediação do professor, com senso crítico, cria a profundidade necessária do saber, desenvolvendo a criticidade do aluno no uso das ferramentas tecnológicas de aprendizagem. Essas prescrevem um caminho inovador para o ensino e possibilidades de aprender com qualidade, desde que mantidas a serviço da educação. O importante é começar a ampliar espaços de ensino, promovendo os letramentos digitais.

 

O importante é começar a ampliar espaços de ensino

 

No segundo capítulo: “# Das implicações à aplicação”, encontramos 50 (cinquenta) atividades práticas de letramentos digitais, com estratégias didático-metodológicas pensadas para aqueles não muito familiarizados com as novas tecnologias. Todas as atividades abordam interdisciplinarmente o ensino da língua (algumas atividades perpassam hábitos culturais, geografia, história, culinária, entre outros). É um livro de metodologia de ensino, precisamente para ensino-aprendizagem de letramentos digitais nas aulas de língua. Os autores ponderam o uso de recursos analógicos e digitais com foco no mediador, o professor. Essas múltiplas atividades possam ser adaptadas de acordo com a realidade e necessidade de cada turma. Todas elas  colaboram para uma visão empreendedora na educação, em que professores e alunos interagem, construindo conhecimentos no desenvolvimento dos letramentos digitais na prática cotidiana em sala de aula.

Além das atividades detalhadas, há tabelas com a relação das ferramentas digitais utilizadas e os letramentos com suas respectivas atividades, objetivos, linguagem (vocabulário, funções, registro e competências) e tempo destinado a cada atividade digital. Por conseguinte, visualiza-se a praticidade e o comprometimento com as implicações pedagógicas, o que facilita o planejamento das aulas. Outro ponto a destacar é a formação continuada dos professores com sugestões para o desenvolvimento online, por meio de redes de aprendizagem pessoal.

 

os autores ponderam o uso de recursos analógicos e digitais com foco no mediador, o professor

 

No terceiro capítulo: “# Da aplicação à implementação”, seguem orientações para a incorporação de prática de letramentos digitais ao currículo e à carga horária, sugerindo avanços nas habilidades tecnológicas, a fim de desenvolver competências nessa área. São novas aprendizagens emergentes, em virtude da multiplicação das tecnologias móveis e das redes sem fio, que não devem ter rupturas no contexto de sala de aula, já que estão presentes fora da escola. Como fazem parte do cotidiano dos alunos, a escola precisa reconhecer o valor dessas aprendizagens e integrá-las, com procedimentos adequados, aos programas de educação. E avaliar o trabalho digital, com autoavaliação do aluno, avaliação pelos pares e avaliação pelo professor. Sugere-se avaliar não só o produto, mas também o processo, as dinâmicas estabelecidas pelos grupos, com possibilidades de criação de blogs e de armazenar  trabalhos em e-portfólios.

Por fim, o quarto capítulo: “# Da implementação à pesquisa” reitera as redes pessoais de aprendizagem, a importância de manter um blog e outros. A regra é começar devagar e prevalecer na prática de aprendizagem permanente, empreendendo uma pesquisa-ação, por exemplo, porque somos contínuos aprendizes.

De tudo isso se depreende que é hora de o professor dominar os objetos digitais e viabilizar essa aprendizagem atual, com mediação crítica. Este livro contribui muito com o desenvolvimento linguístico e deve ser lido por professores, gestores escolares, pais, alunos, pesquisadores, enfim, toda a comunidade escolar, além de possíveis investidores na educação. 

 

DUDENEY, Gavin; HOCKLY, Nicky; PEGRUM, Mark. Letramentos Digitais. Trad. Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2016. 352 p.