Carlos Eduardo Deoclecio
Quando passei pela escola nos anos 1990, as preposições eram apresentadas numa listinha que memorizávamos com base num dispositivo matemático: as 18 preposições essenciais (a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás), aquelas que em tese só funcionam como preposição na língua — Bechara (2015) não inclui após e per entre as essenciais. Cunha e Cintra (2017) mantêm após entre elas e colocam per ao lado de por, o que Bechara também faz. Os professores não nos diziam por que algumas eram chamadas essenciais e outras acidentais — aquelas que eventualmente funcionam como preposição, como exceto e mediante. Mas também nunca perguntávamos, porque existia um harmonioso contrato de reprodução do conhecimento institucionalizado nesse estado de coisas. Também fazia parte desse esquema não receber explicações nem perguntar como usar ante, per, perante e trás. Existe ideologia nisso?
Em gramáticas, a classe das preposições é apresentada como um conjunto de palavras (ou vocábulos) ou unidades linguísticas desprovidas de flexão de número e gênero, invariáveis na forma, portanto. Funcionam como unidades relacionais entre nomes e também entre orações, estabelecendo entre esses elementos relação de subordinação: em caixa de sapatos, a preposição de, ao relacionar os substantivos caixa e sapatos, de modo a especificar o primeiro, contribui para a hierarquização sintática em que o consequente sapatos se subordina ao antecedente caixa.
Às vezes nos confrontamos com o emprego de algumas preposições. Vejamos alguns casos: